quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Um olhar que se perde...

A comum e cinzenta manhã. A mesma velha cidade. As mesmas sensações do mundo insensato. A quase robótica e mecânica obviedade da rotina. As mesmas palavras repetidas, frases feitas e refeitas simplesmente jogadas aos quatro ventos. A igualdade do viver cotidiano. As mesmas máscaras e rostos que se confundem e se intercalam em meio a poeira e fumaça por entre os muros das nossas cidades e dos nossos imensos universos internos. As palavras, versos e sentimentos contidos no interior das almas sofridas e inquietas. A incessante e solitária luta por um mundo, uma vida, ao menos um segundo melhor. O total esforço, desgaste e empenho em busca de ideais perdidos e de um destino absolutamente incerto. A maratona incessante em busca do pote dourado, na finita pista infindável que termina em um escuro abismo. Vozes, imagens, vidas, histórias, sentimentos inexprimíveis e inexpressivos ... gritos contidos e sussuros gritantes...
Em meio a tudo isso, olhares. Muitos olhares.
Cada um com seu sentido. Cada um com seu destino. Cada um com seu significado.
Dentre todos esses, me atento aos mais singelos e representativos...
Os olhares de alegria, aqueles que sempre marcam os nossos dias. A felicidade que pulsa por todo o corpo, nunca é melhor expressa do que no olhar. O espelho de nossas almas reflete fielmente toda a exaltação que nos faz querer explodir por dentro, certas vezes.
Os olhares de pesar, que, assim como os de alegria, podem reproduzir fielmente o que acontece conosco em nosso interior, para aqueles que ainda sentem.
Os olhares calmos, os que demonstram nossa força, controle e atenção para com os outros.
E também os olhares apreensivos, que podem denotar a intensidade, medo, insegurança, ou, certas vezes, nada.
Entre todas estas coisas, e todos esses olhares, certa vez me vi perdido ... perdido na multidão. Perdido em meus sentimentos. Perdido em meus pensamentos. Perdido nos ruidosos incômodos. Perdido.
No meio de toda a confusão, algo prendeu minha atenção. Algo que nunca havia presenciado ou sentido. Uma nova sensação em meio a esse total torpor de falsidades que assola, assombra e anestesia a vida real. Não era nada que pudesse ser comprado ou vendido. Nada que pudesse ser medido. Nada pertencente a este mundo imundo.
Um olhar, apenas um simples olhar. Um olhar que não pude deduzir, sentir, sintetizar. Um olhar que não pude compreender. Um olhar. Apenas alguns segundos de uma total reciprocidade. Um olhar, que disse tudo, mas, não disse nada. Uma linguagem difícilmente de ser compreendida, sentida ou captada. Um momento. Um olhar, nada mais. Um momento real em meio a toda essa virtualidade. Um olhar, apenas um olhar .... apenas isso.

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