quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sem palavras, novamente (in memoriam)

Olá pessoal, pra quem acompanha o blog (principalmente meus posts) deve saber mais ou menos como estou... peço desculpas por esse tempo sem postar nada (e nem nada meu), mas achei palavras que podem resumir um pouquinho do que passo...Um poema do Mestre Sagrado, José Saramago.

Poema à boca fechada


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.


Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.


Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.


Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.


Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.


Até mais!

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