quinta-feira, 8 de julho de 2010

Pensamentos

Trago hoje alguns pequenos textos de Paulo Coelho, para mim um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos:

O VENCEDOR APRENDE COM O VENCIDO

Os exércitos de Alexandre o Grande preparavam-se para tomar uma cidade na África. Mas as portas se abriram, sem resistência; a população era quase toda feminina, já que os homens haviam morrido nos combates contra o conquistador.

No banquete da vitória, Alexandre pediu que lhe trouxessem pão. Uma das mulheres trouxe uma bandeja de ouro, coberta de pedras preciosas, com um pedacinho de pão ao centro.

“Não posso comer pedras preciosas e ouro; o que pedi foi pão!”, bradou.

E a mulher respondeu: “Alexandre, não tem pão em seu reino? Precisava vir buscá-lo tão longe, matar tanta gente por causa disso?”

Alexandre continuou suas conquistas, mas – antes de partir dali, mandou gravar numa pedra:

“Eu, Alexandre o Grande, vim até a África para aprender com estas mulheres que as vezes a ambição pode não levar a nada”.

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DA VISITA DO ANJO

O “Verba Seniorum” – coleção de textos sobre os monges que viviam no deserto, no começo da era cristã – conta a história de um ermitão que conseguiu jejuar durante um ano, comendo apenas uma vez por semana.

Depois de tanto esforço, pediu que Deus lhe revelasse o verdadeiro significado de determinada passagem bíblica. Não escutou nenhuma resposta.

“Que desperdício de tempo”, disse o monge para si mesmo. “Fiz todo este sacrifício e Deus não me responde! Melhor sair daqui e encontrar algum outro monge que saiba o significado deste texto”.

Neste momento, apareceu um anjo. “Os 12 meses de jejum só serviram para você acreditar que era melhor que os outros, e Deus não escuta os vaidosos”, disse o anjo. “Mas quando você foi humilde, e pensou em pedir ajuda ao seu próximo, Deus me enviou”.

E o anjo revelou ao monge o que ele queria saber.

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COMPORTAMENTO

O comportamento humano dito normal é apenas uma questão de consenso; ou seja, se muita gente pensa que uma coisa está certa, esta coisa passa a estar certa.

Existem coisas que são governadas pelo bom-senso humano: colocar os botões na frente da camisa é uma questão lógica, já que ficaria muito difícil abotoá-los de lado, e impossível abotoá-los se estivessem nas costas.

Cada ser humano é único, com suas próprias qualidades, instintos, formas de prazer, busca da aventura. Mas a sociedade termina impondo uma maneira coletiva de agir – e as pessoas não param para perguntar o porquê. Apenas aceitam.

É grave querer ser igual, porque isso é forçar a natureza, é ir contra as leis de Deus – que, em todos os bosques e florestas do mundo, não criou uma só folha igual a outra.


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O VIAJANTE SILENCIOSO



O governador e sua comitiva estavam em um trem, quando notaram, no mesmo vagão, um senhor mal-vestido, com os olhos fechados. Alguém resolveu afastá-lo dali, mas o governador impediu; aquela criatura serviria para distraí-los durante a viagem.

Provocaram o homem durante todo o trajeto, com gracejos e humilhações.

Quando chegaram à estação, porém, viram que muita gente viera receber o estranho: tratava-se de um dos mais conhecidos rabinos da América, e seus seguidores tinham ajudado a eleger o governador.

Imediatamente, este se deu conta do erro. Puxando-o para um canto, pediu:

“Perdoa as nossas brincadeiras e abençoa-nos, rabino”.

“Eu posso abençoá-lo, mas não posso perdoá-lo. Naquele trem, eu estava, sem querer, representando todos os homens humildes deste mundo. Para receber o perdão, percorra a terra inteira, e se ajoelhe diante de cada um deles”.

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